O Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve), Francisco Serra, participou na sessão de assinatura dos protolocos de apoio e colaboração para a candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura em 2027.

A candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura 2027, é e deverá ser, um desígnio regional comum, de todos e para todos. Desde o início, durante todo o processo e sobretudo até ao seu desfecho, seja ele ou não bem-sucedido.

Um desígnio de todos - os que preparam a candidatura, os que programam as intervenções, os que decidem, os que beneficiarão do processo, os criadores, os criativos, os empreendedores, os artistas, os residentes, os que nos visitam, os participantes, o público. Todos! Numa lógica em que aprendamos mutuamente, permitindo que essa aprendizagem perdure no tempo e não se esgote no processo e que tenha nas pessoas o foco de toda a intervenção!

Após esta breve nota introdutória, inspirado pelo magnífico palco do Teatro das Figuras, centrarei a minha intervenção em torno de cinco fatores centrais.

O primeiro fator prende-se com o próprio conceito de Cultura, que sendo amplo e complexo, dependendo da forma como o interpretarmos, será olhado ora de forma dispersa ora abrangente, ora no sentido restrito ora no sentido lato.

Neste âmbito, a Cultura, marca e faz emergir a dimensão estratégica basilar da constituição, da agora, União Europeia, preconizando na diversidade, uma unidade e universalidade de valores, conhecimentos e património coletivo, que tem subjacente a construção de uma identidade cultural europeia que nos distingue e nos deve orgulhar.

A Cultura dos povos, nas suas múltiplas escalas, forma-nos, ensina-nos e convida-nos a partilhar e vivenciar experiências, partilhando e construindo, também pela Cultura, um caminho comum, desde a base local à continental.

O segundo fator prende-se com o “palco proposto” – Faro! Capital administrativa da mais internacional das regiões portuguesas, o Algarve.

Neste processo, há que “olhar para dentro” e identificar o que nos distingue. A identidade local, os valores em presença, os magníficos recursos que dispomos - de toda a ordem, patrimoniais, paisagísticos, humanos - e potenciá-los de forma criativa, empreendedora, arrojada, mas segura!

A ligação ao mar, à Ria Formosa, ao conhecimento, à Universidade do Algarve, à Dieta Mediterrânica, assim como a projeção e reconhecimento turístico internacional que detemos, a diversidade territorial concentrada, o património secular, o imaginário das descobertas, a massa humana de excelência – Todos, são fatores distintivos que podem sustentar uma narrativa impar e vencedora para a candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura 2027.

Mas não chega! Neste processo construtivo, há que revisitar Lisboa 1994, Porto 2001, Guimarães 2012. Conhecer os caminhos percorridos, os ganhos obtidos, as dificuldades sentidas. O que perdura? Há que avaliar. Há que aprender. Há que apreender!

Depois “olhar novamente para dentro” e questionar-nos. O que estamos dispostos a fazer? Mudar paradigmas? Vencer preconceitos? Alterar modus operandi? Prescindir de poder? Partilhá-lo? O processo exige-o!

O terceiro fator prende-se com a geografia, aliada à distinta localização e centralidade que Faro goza, nas suas múltiplas escalas. Faro possui condições impares, que devem ser colocadas ao serviço do desígnio abraçado, possibilitando abordagens territoriais multi escalares criativas para capitalizar a Cultura Europeia em 2027!

Na dimensão Inter-regional com o Alentejo. Na dimensão transfronteiriça com Andaluzia. Na dimensão Mediterrânica com os países do sul europeu e do norte de África, que nos dão igualmente uma abertura intercontinental, que se reforça e renova para toda a fachada Atlântica.

Da Europa ao país, do país à região, da região à cidade de Faro, há que encontrar espaços de encontro, de partilha e de colaboração cooperativa que abracem os desafios societais vigentes e constituam espaços de adaptação, para respondermos, também culturalmente, a esses novos desafios - nas alterações climáticas, na digitalização da economia, na sustentabilidade demográfica, na descarbonização, na transição energética, na economia circular.

O quarto fator, que se interliga com os anteriores, incide na cooperação, no trabalho em parceria e numa abordagem integrada e inclusiva.

Mais do que a soma das partes, este deve ser um processo efetivamente participado, partilhado, de todos e para todos, de compromisso, de corresponsabilização, gerador de confiança.

Da criação artística de base local à formação de público, há que fazer chegar a cultura às pessoas e fazer chegar as pessoas à cultura – derrubar barreiras!

Há que promover a literacia e o gosto pela Cultura, pelas artes, pelo património, pela diferença e pelo respeito pela diferença! A inclusão deve nortear e diferenciar o projeto! Sem estigmas, sem elitismos e sem estereótipos de qualquer género.

Mesmo em processos cooperativos, a liderança é determinante. O Município de Faro, assume hoje esse compromisso.

Por fim, o quinto e último fator, que se centra na mudança. A mudança na forma de pensar, de gerir, de agir, de atuar, de decidir. Em parte, por consequência dos já mencionados desafios societais que se nos colocam, sobre os quais incidem processos complexos de mudança cultural.

Mas também, na mudança inerente aos grandes desígnios da sustentabilidade e dos objetivos de desenvolvimento sustentável para 2030, que não podemos desvirtuar nem descartar.

Nestes, Faro, como qualquer cidade candidata, terá muito caminho por percorrer. Na igualdade de oportunidades, no combate à pobreza e à exclusão, na gestão da água, na gestão urbanística, no cuidado com o espaço público e com o património, na regeneração urbana, na emergência de novas valências e serviços, nos novos desafios e oportunidades, nas quais a cultura é transversal, de forma mais ou menos intrusiva. No património há sinais preocupantes. Todos os dias ficamos mais pobres coletivamente. Estamos preparados para parar? Para contrariar? Para rever processos em curso em nome de um desígnio comum maior?

Num processo como uma candidatura a Capital Europeia da Cultura, todos contam, todas as áreas e setores contam, todos os sinais contam. Em tudo encontramos uma dimensão cultural, que urge elevar e praticar, de forma coerente e integrada.

Por parte da CCDR Algarve o compromisso está firmado. O desígnio cultural integrado num quadro alargado de desenvolvimento regional, que se deseja competitivo e sustentável, alicerçado na especialização inteligente que encontra nas indústrias culturais e criativas um dos domínios de especialização primordial a consolidar, está bem identificado no quadro estratégico para o horizonte 2030.

A nossa experiência na dinamização de projetos relevantes que elevaram os valores identitários e valorizaram os recursos patrimoniais e endógenos na região, como o Projeto TASA na área do artesanato ou a candidatura da Dieta Mediterrânica a património imaterial da humanidade, são disso exemplo.

Faro, Capital Europeia de Cultura 2027 é, como assistimos hoje, um desígnio regional, que projetará o país, a região e a sua competitividade e afirmação, com criatividade e inovação cultural. A partir de hoje, os “olhos estão postos” em Faro.

No final, tenhamos ou não Faro como Capital Europeia de Cultura em 2027, sintamos que valeu pelo processo e aprendizagem e que o mesmo deixou marcas indeléveis na sociedade, nas instituições, nas pessoas, nos seus hábitos e na forma de fazer e viver a cidade. Certamente sairemos todos vencedores!

Que este percurso se transforme num exercício societal que nos leve a responder, sob o mote da cultura, à forma de estarmos e sermos comunidade.

Se a cultura é o que nos une, afirmo hoje, que já nos uniu!"

2019-11-28